terça-feira, 20 de novembro de 2018

A Raposa Branca

A Raposa Branca
Há muitos anos, o filho de um príncipe foi caçar na floresta de Shimoda[1]. Ele teve a rara boa fortuna de capturar uma raposa fêmea, branca como a neve. Ele queria matar o animal, mas Yasuna, o filho do zelador de um templo que tomara parte da caçada, pediu que ela lhe fosse dada de presente, pois sabia que raposas de pelo branco têm poderes mágicos, vivem por milhares de anos, e podem mudar de forma. Mas o filho do príncipe queria a bela pele do animal para si, e ordenou aos seus homens que matassem a raposa. Yasuna tirou a raposa dos caçadores à força, e, sangrando de muitos ferimentos, fugiu com o animal. Depois de correr por algum tempo, ele caiu exausto e soltou a raposa, que desapareceu rapidamente entre as árvores. Misteriosamente, sua noiva, Kuzunaha, apareceu de repente. Quando ela viu que estava ferido, o ajudou a voltar para casa.

Yasuna estava surpreso em ver sua noiva ali, pois ele achava que ela estava com seus pais, que moravam na província de Kumamoto[2], que ficava longe de Shimoda, e por isso perguntou como ela chegara ali, e como o encontrara na floresta.

Kuzunoha respondeu: -- Não me pergunte nada ainda. Não é hora de explicar. No momento certo, você saberá de tudo!

Isso acalmou Yasuna, que estavafeliz por ter a noiva ao seu lado. Eles se casaram alguns dias depois. Eles viveram felizes por anos depois disso, e Kuzunoha lhe deu um lindo filho, que os abençoou ainda mais. Ela batizou o menino de Dokyo.

Um dia, Yasuna foi até a floresta, e voltou tarde da noite. Quando ele chegou à porta de casa, ficou muito surpreso em encontrar sua esposa seus pais conversando, muito agitados. Ele aproximou, os saudou, e perguntou por que eles ficaram do lado de fora em vez de entrar na casa.

Seu sogro, entretanto, perguntou com raiva por que ele não procurara sua noiva por tantos anos, e agora estava vivendo com outra mulher.

Yasuna não sabia o que dizer, e ficou ainda mais surpreso quando sua noiva fez a mesma acusação. Ele abriu a porta da casa e convidou todos a entrarem. -- Podemos conversar mais aqui dentro, para que eu possa entender suas acusações! Aqui na rua não é lugar para isso -- ele disse, e fez menção de entrar, mas parou, porque sua esposa, mas que dizia, entretanto, não ser sua esposa, mas sua noiva! Quem era Kuzunoha real, e quem era a falsa? Ele fechou a porta em completo silêncio, deu um passo para trás e disse: -- Esperem aqui um minuto, eu já volto!

Ele então entrou na casa, cumprimentou a esposa e lhe disse: -- Seu pais chegaram, prepare-se para recebê-los! Voltaremos em uma hora!

Depois que a mulher prometu comprar o que houvese de melhor para o jantar, Yasuna voltou para os sogros e os convidou para uma caminhada, pois depois de uma hora ele os traria de volta.

No caminho, ele contou aos sogros que a mulher na casa era na verdade sua filha Kuzunoha, sua noiva.

Yasuna contou sobre sua aventura e sobre seu casamento feliz.

Durante a conversa, passou-se uma hora, e eles retornaram à casa, mas a mulher não estava mais lá, só a criança, deitada na cama e chorando. Foi Kuzunoha que pegou o menino no colo e brincou com ele. Então o menino contou a ela que tivera um sonho muito estranho, e ela perguntou qual fora. Ele disse: -- Antes, quando eu estava dormindo, você me disse que não era humana, mas sim uma raposa encantada. Disse que Papai salvou sua vida, que por isso você assumiu forma humana e apareceu diante dele para agradecer. Mas que agora a noiva verdadeira dele voltou e você tinha que ir embora. Que eu devia dizer isso ao Papai, e que devia ficar e ser bom e valente. Não foi um sonho estúpido!

Todos olharam surpresos, mas agora o mistério fora esclarecido. A Kuzunoha real continuou na casa como esposa leal, e educou o filho de Yasuna, Dokyo, para ser um homem inteligente e valente.

O filho da raposa branca.

[1]. Shimoda fica na península de Izu, perto de Yokohama.
[2]. Kumamoto é uma cidade e província no sul do japão, perto de Nagasaki.

Info vide: Contos de Fadas JaponesesKarl Alberti.

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Quem isto ouvir e contar em pedra se há de tornar...