https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45364002
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[Famoso por participação em documentários, Zahi Hawaas participa de movimento por repatriação de objetos egípcios]
Ex-ministro de Antiguidades do Egito, o arqueólogo Zahi Hawass diz que o incêndio que destruiu boa parte do acervo do Museu Nacional - que incluía a maior coleção de arte egípcia da América Latina - foi uma tragédia também para seu país.
"Como pode um grande museu numa cidade tão grande ficar desguarnecido e desprotegido contra incêndios?", questiona Hawass em entrevista à BBC News Brasil.
"Foi uma falha da equipe do museu ou do governo? Não sei, mas foi um crime que nos faz lamentar muito", afirmou.
Segundo o arqueólogo, "todo museu no mundo faz testes de incêndio para garantir que o sistema de alarme funcione". Ele diz que a tragédia legitima o movimento pela repatriação de objetos egípcios em museus espalhados pelo mundo. "Se eles não forem protegidos, deverão voltar à terra mãe", diz.
Campanha pelo retorno da arte egípcia
Famoso por suas participações em documentários sobre o Egito Antigo, Hawass ganhou ainda mais visibilidade nos últimos anos ao endossar uma campanha pelo retorno da arte egípcia presente em outros países.
[Sarcófago da Dama Sha-Amun-em-su era uma das principais peças da coleção egípcia do Museu Nacional]
Após dirigir instituições responsáveis por alguns dos principais monumentos egípcios - como as pirâmides de Gizé e as ruínas de Saqqarah e Al-Wāḥāt al-Baḥriyyah -, ele foi nomeado em 2002 secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, órgão do governo responsável pela preservação do patrimônio.
Em 2011, Hawass chefiou por alguns meses o Ministério de Antiguidades após a criação do órgão, até a queda do presidente Hosni Mubarak, em meio à Primavera Árabe.
Ele diz que visitou o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2009. "Eu vi como as crianças de escolas corriam para ver as múmias e pude ver que os artefatos eram muito importantes", afirma.
Entre os 700 itens da coleção egípcia, havia sarcófagos, estátuas, amuletos, bronzes e múmias - a maioria dos períodos mais tardios da história egípcia, como o Reino Novo (1550 AC a 1077 AC) e o Terceiro Período Intermediário (1069 AC a 664 AC).
[Esquife de Hori integra a coleção adquirida por D. Pedro 1º e é provavelmente oriunda de Tebas]
Segundo Hawass, a melhor peça da coleção era o esquife (sarcófago) de uma cantora do santuário do deus Amun chamada Sha-Amun-em-su. O objeto, com 1,58 metro, data da 23ª Dinastia (cerca de 750 AC) e foi presenteado pelo Quediva (vice-rei) do Egito, Ismail, ao imperador D. Pedro 2º durante sua viagem ao Egito, em 1876.
O arqueólogo destaca ainda a coleção de gatos e crocodilos embalsamados e "uma múmia muito peculiar de uma rainha do Período Romano" (entre os séculos 4 e 6).
Coleção egípcia do Museu Nacional
Hawass diz que as peças do Museu Nacional não estavam entre as coleções que arqueólogos egípcios tentam repatriar, pois "muito desses itens deixaram o Egito como presentes ou num período em que o comércio de antiguidades era legal no país".
Vários objetos que o movimento pretende recuperar saíram do Egito quando a nação era um protetorado britânico (1882-1953) e potências europeias enriqueciam os acervos de seus museus com objetos retirados das colônias.
Entre os itens mais cobiçados estão a Pedra de Roseta, hoje no Museu Britânico (Londres), e o busto da rainha Nefertiti, do Museu Egípcio de Berlim.
[Peça que pertencia ao sarcófago de uma mulher e integra a coleção egípcia do Museu Nacional]
Há movimentos pela repatriação de objetos artísticos em vários países. No Brasil, pesquisadores, autoridades e indígenas tentam recuperar vários fósseis e artefatos que estão em museus estrangeiros - como os mantos tupinambás, exuberantes peças de plumária cujos últimos seis remanescentes estão na Europa.
Embora a coleção do Museu Nacional não estivesse na mira dos arqueólogos egípcios, Hawass diz que a destruição do acervo reforça o movimento pela repatriação de objetos.
"Este incidente nos permite pedir à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para que países com coleções no exterior, e museus no exterior, tenham controle sobre essas coleções, para que possamos garantir que esses objetos sejam protegidos e restaurados adequadamente."
E se os museus estrangeiros não forem capazes de garantir a segurança e conservação dos objetos, o arqueólogo defende que sejam devolvidos à terra natal.
"Acho que essa é uma decisão que a Unesco pode tomar, porque o incêndio foi devastador para todos nós."
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Imagens vide: "ZAHI HAWAAS/DIVULGAÇÃO", "ANTONIO BRANCAGLION/MUSEU NACIONAL", "MUSEU NACIONAL", e "MUSEU NACIONAL" respectivamente.
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